Obra vai virar livro brevemente e ressalta a genialidade do ex-prefeito Dr. Carlinhos
O Professor Ms. Augusto Cesar Aguiar Pimentel (PIMENTA), Mestre em Ensino da Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, uma das mais importantes instituições de ensino da América Latina, em breve vai publicar o trabalho apresentado na conclusão de sua pesquisa de Mestrado, cujo tema foi As faces da história na construção de um monumento, abordando a edificação da Praça da Matemática. Na entrevista, uma espécie de prévia do livro que está chegando.
Nova Voz – Como surgiu a idéia de fazer seu trabalho, tendo como tema a Praça da Matemática?
Pimenta – No ano de 1996, fui convidado a implantar o curso Pré-Vestibular, em parceria com o Colégio SEI, em Itaocara. Ainda não conhecia a cidade, Apenas sabia da existência da Praça da Matemática. Logo fui conhecê-la. Ao chegar ao local, fiquei encantado e, ao mesmo tempo perplexo com tão grandiosa obra. Imediatamente entrei e indaguei: Quem seria capaz de prestar uma homenagem assim à Matemática? Fui então informado de que havia sido um antigo Prefeito (Dr. Carlinhos), que apesar da formação em Direito, tinha adoração pela Matemática. Soube que na época ele procurou Malba Tahan para que pudesse planejar e executar esta homenagem à Matemática. A partir daquele momento, não consegui parar de pensar na Praça.
Nova Voz – Como foi desenvolvido o trabalho?
Pimenta – No ano de 2000, passei a lecionar a disciplina de História da Matemática, na UFF (Universidade Federal Fluminense), em Santo Antônio de Pádua. Ao trabalhar com o texto do Prof. Dr. Ubiratan D’Ambrosio, a Interface entre História e Matemática, cuja orientação é que devemos prestigiar além da história de grandes matemáticos, também as histórias locais, como por exemplo, as construções consideradas importantes. Propus então uma pesquisa sobre a Praça da Matemática a um grupo de alunos, residentes em Itaocara. Após a apresentação, fiquei ainda mais encantado e resolvi me aprofundar. Tempos depois, precisamente no dia 8 de setembro de 2006, fui convidado pela Profª Dra. Estela Kaufman Fainguelernt e um grupo de professores, a fazer Mestrado na PUC-SP.
Nova Voz – Foi na PUC que o trabalho ficou mais encorpado?
Pimenta – Exatamente. Ao chegar à PUC-SP, soube que o Prof. Dr. Ubiratan D’Ambrosio lecionava a disciplina História da Matemática. Logo, meu deu um “estalo”: Será que aceitaria ser meu orientador para juntos, montarmos a História da Praça da Matemática? Enviei um e-mail para ele que, prontamente, não só concordou em ser meu orientador, como achou ótima a idéia. Fiquei impressionado com sua humildade e sabedoria, além de muito feliz por concordar com o projeto. Assim começou o trabalho de aprofundar a pesquisa com objetivo de perpetuar a história da Praça.
Nova Voz – Quais são as histórias mais interessantes que descobriu?
Pimenta – Todas as histórias relatadas na minha dissertação de Mestrado são interessantes. Fizemos descobertas incríveis sobre o Dr. Carlinhos, como por exemplo, de que forma o globo da Praça da Geografia foi conseguido. Sobre a idéia da Ilha do Povo, onde as pessoas se divertiam com as famílias nos finais de semana, sendo necessário para tal, apenas que fosse alfabetizado ou estudando, e a demonstração do Teorema de Pitágoras no chão da Concha Acústica, dentre outras. Vale ressaltar o governo de Dr. Carlinhos, uma pessoa com visão futurista e que soube dar valor as artes e a educação. Ele desenvolveu sua gestão voltada ao interesse da população e com foco no turismo. Repare, existia em praça pública, biblioteca com livros e revistas para as pessoas lerem e, o mais incrível, ninguém estragava os livros, e se uma pessoa deixasse o livro marcado, no dia seguinte, poderia continuar sua leitura. Sensacional.
Nova Voz – Como sentiu o interesse do meio acadêmico?
Pimenta – O interesse pela Praça é o melhor possível. Já apresentamos nosso trabalho em várias cidades do Brasil. Estivemos presentes em Canoas, no Rio Grande do Sul, no Congresso Internacional de Ensino de Matemática. Ainda em Belém do Pará, no Seminário Nacional de História da Matemática, onde fomos convidados a uma entrevista na TV local. Nosso trabalho tem sido referência em outros livros e isso me deixa imensamente feliz, pois além da Praça da Matemática, estamos levando o nome da cidade de Itaocara, juntamente com seus encantos naturais.
Nova Voz – Como surgiu a idéia de construir a Praça da Matemática?
Pimenta – A Praça foi idéia do Prefeito Dr. Carlinhos, que na época tinha apenas 29 anos. Prestou uma homenagem “Sui Generis” a Matemática. Dr. Carlinhos em um de nossos encontros confessou que estudou Direito por imposição da família, mas ao se preparar para ingressar na Escola Naval, ficou encantado com a Matemática, e a partir daí, dedicou seu tempo a ensiná-la. Então a idéia de construir a Praça teve início. Ele procurou Malba Tahan, professor que procurava desmistificar esta disciplina, para que pudesse planejar e executar uma praça em homenagem à Matemática.
Nova Voz – Como foi ser orientado pelo Professor Dr. Ubiratan D’Ambrosio?
Pimenta – Ser aluno do D’Ambrosio foi uma grande honra. Acompanho os trabalhos do Ubiratan há muitos anos. Ele é uma pessoa extremamente generosa e consegue que seus alunos “viagem” no tempo para acompanhar, com fidelidade, a História da Matemática. Eu tive o privilégio de tê-lo como meu orientador e como parceiro na História da Praça da Matemática de Itaocara.
Nova Voz – O que ele achou da Praça da Matemática? Do seu trabalho e do monumento?
Pimenta – O Professor D’Ambrosio está ansioso para conhecer a cidade e a já tão famosa Praça da Matemática. Estamos preparando a sua vinda, que vai ser no lançamento do nosso livro, muito em breve.
Nova Voz – Como ser humano, quais as lições que tirou deste convívio?
Pimenta – Como lição de vida, ficou o grande exemplo de humildade e a admiração ao ser humano. O Professor Ubiratan é uma pessoa muito conhecida e figura entre os maiores matemáticos do mundo. Já recebeu a medalha Félix Klein, prêmio que expressa o reconhecimento pelas contribuições à educação matemática em todo o mundo. Mesmo assim sua simplicidade encanta a todos que tem o privilégio de conhecê-lo. Não posso deixar de ressaltar o carinho dedicado a todos os seus orientandos.
Nova Voz – Como foi o trabalho pelo tombamento da praça da matemática?
Pimenta – Não se sabia se a Praça havia sido tombada ou não. Procurei o Presidente da Câmara da época, o Vereador Carlinhos da Padaria, e ele se prontificou a verificar se existia tal documento. Constatou-se a inexistência do mesmo. Fizemos a solicitação formal, e, através do Projeto de Lei nº 011/07, foi determinado o tombamento como Patrimônio Histórico e Cultural do Município de Itaocara, o Monumento à Matemática, sancionado pelo então Prefeito, Manoel Queiroz de Faria, em 18 de maio de 2007.
Nova Voz – Por favor, explique ao leitor, o título “As faces da história na construção de um monumento”, da sua dissertação de mestrado.
Pimenta – O Monumento retrata duas pirâmides hexagonais (seis faces) entrelaçadas. Em cada face estão relacionados nomes de matemáticos de determinada época demonstrando fases da história da matemática. Como na dissertação constam seis capítulos, resolvemos substituir o nome capítulo por faces.
Nova Voz – Qual foi à participação de Malba Tahan no projeto de construção da praça da matemática?
Pimenta – Malba Tahan foi um dos grandes expoentes na Matemática. Ele foi procurado pelo Dr. Carlinhos, que queria concretizar o sonho de construir uma homenagem ímpar a Matemática. Malba Tahan, professor da Escola Nacional de Belas Artes da Universidade do Brasil, hoje UFRJ, realizou um concurso entre seus alunos, sendo vencedor Godofredo Formenti. O monumento em si foi construído pelo itaocarense, senhor Italarico Alves. Malba Tahan foi o diretor técnico do projeto.
Nova Voz – Professor Pimenta, fazer um Mestrado na PUC de São Paulo, é algo realmente grandioso. Essa instituição é uma das melhores da América Latina. Pode falar um pouco desta experiência também?
Pimenta – Foi uma experiência maravilhosa fazer parte do corpo discente da PUC-SP. Fui muito bem recebido e acolhido pela equipe extraordinária de professores e, também, pelos colegas de SP que convivi nesses dois anos de Mestrado. Todo o curso foi embasado em softwares, mostrando os avanços tecnológicos que podemos dispor para melhorar nosso dia a dia na sala de aula. Fui privilegiado com uma equipe formada pelos melhores professores do país.
Nova Voz – Gostaria que contasse sobre o esforço pessoal, pois continuou morando em Itaocara (e estudando em São Paulo), mesmo tendo que viajar várias horas, e chegando de madrugada, ainda tinha energia para lecionar no SEI. Como foi isso?
Pimenta – Realmente tudo foi feito com muito sacrifício. Saía da rodoviária de Miracema, (pois lecionava no Centro Educacional São José até 19h30 min) por volta das 20h, viajava 12 horas para assistir aulas em São Paulo, e depois retornar, com mais 12 horas de ônibus. Chegava por volta das seis da manhã, tomava banho, café e ia assumir as minhas aulas no SEI, às 7 horas. Cansado, mas feliz da vida, pois fazia o que gostava, além de perceber que com meu trabalho, levava o nome de Itaocara para SP e todo o Brasil.
Nova Voz – Qual foi o papel da Professora Sonia nesta grande luta?
Pimenta – O mais importante disso tudo é que eu tenho uma esposa-amiga-companheira, que me ajudou o tempo todo, e não deixou que eu desistisse de realizar esse sonho. Gostaria de encerrar, dizendo que tudo só foi possível, apesar dos 613 km de distância, porque tive a Sonia ao meu lado, a pessoa que me faz sentir verdadeiramente feliz e realizado.
Clique aqui e leia a matéria sobre o Monumento à Matemática
Ronald Thompson
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