Dr. Carlos Magno

Dr. Carlos Magno em recente visita a Nova Iorque visitou Wall Street o maior mercado financeiro do planeta

Dr. Carlos Magno Daher Completa 40 anos de Medicina
Rotina diária continua intensa e inclui a Direção Geral do Hospital de Itaocara e da Casa de Saúde João XXIII
Não há em Itaocara quem não conheça o médico Dr. Carlos Magno Daher. Por seus 40 anos dedicados a medicina, tornou-se símbolo na cidade e nestes 119 anos do município, ele conta abaixo um pouco desta história.
Nova Voz – Como é completar 40 anos de carreira?
Dr. Carlos Magno – No dia 12 de Dezembro de 1969, colei grau em medicina. Estou próximo a completar 40 anos de vida profissional. Naquela época meus planos eram partir para os Estados Unidos, onde queria fazer minha residência médica. Mas, em maio de 1970, vim até Pádua conversar com minha família e minha então noiva, Christina. Na oportunidade um amigo, também formado há pouco tempo, o Dr. Nelson Freitas Rodrigues, pediu que fosse até Itaocara conhecer o trabalho que alguns jovens médicos estavam realizando, em torno da liderança do Dr. Álvaro Pinheiro e do Dr. Geomar Alves da Cunha. O Hospital de Itaocara tinha sofrido obras de ampliação, o que me motivou a iniciar alguns atendimentos. Foi esse contato com a população que acabou me prendendo e em 1° de Junho de 1970 iniciei minha vida médica nesse município.
Nova Voz – Já havia a Casa de Saúde João XXIII?
Dr. Carlos Magno – Não. Mas nasceu a idéia de construir um nosocômio mais moderno, capaz de melhor atender a população. Então o sistema era gerido pelo INAMPS / INPS, que diferente do SUS de hoje, possibilitava realmente que se fizesse um atendimento universal de melhor qualidade para população. Além de remunerar de forma digna os médicos e hospitais, gerava o espírito de empreender na saúde. Só para situar, iniciamos as obras em Janeiro de 1971 e inauguramos em junho de 1975. Os médicos que participaram dessa corajosa iniciativa, vão lembrar quanto trabalho tivemos e como fomos ousados em sonhar trazer até Itaocara uma medicina mais atualizada, e até os dias atuais lutamos nesse sentido.
Nova Voz – Há atualmente uma crítica aos jovens médicos sobre a dependência que possuem da tecnologia para diagnosticar. Que avaliação faz dessa circunstancia?
Dr. Carlos Magno – Tenho viajado muito para o exterior, em função do meu filho, Dr. João Paulo ter estudado na Europa e agora está fazendo o Doutorado nos Estados Unidos, especificamente no John Hopkins Hospital, que é um dos mais importantes centros médicos do planeta. Diria que vivemos a época da medicina dos aparelhos. Com o máximo respeito que tenho pelos jovens profissionais, preciso destacar que sinto falta de uma formação básica em clínica médica. Hoje tudo se resolve com uma batelada de exames caríssimos. Quem sabe esse pensamento não é influenciado pelas multinacionais, que comercializam esse maquinário? Tomografia, ressonância, ultra som, hormônios e etc. Isso fez desaparecer aquela condição do Clínico Geral, que só se aprende na medicina do dia a dia. Os médicos mais antigos só no contato do consultório, perguntando sobre o que o paciente está sentindo, verificando o histórico, com aparelhos simples como o medidor de pressão e a ausculta dos pulmões chegam a diagnósticos da mesma forma precisos em 90 % dos casos. Penso que essa melhor tecnologia deveria ficar apenas para os casos que realmente fossem difíceis de diagnosticar, o que é a minoria das vezes.
Nova Voz – Então a ‘mão do médico’ continua sendo importante?
Dr. Carlos Magno – Com certeza. Tenho pacientes que trato da família há décadas. Acompanhei o avô, o pai, a esposa, os filhos e até os netos. Com os médicos antigos existe esse vinculo. Desde os primeiros dias da faculdade, aprendi que o diagnóstico está na história clínica do paciente. Por isso é fundamental saber o que ele está sentido e se informar sobre sua família. Então nos 10 % dos casos restantes, vamos usar os exames complementares mais caros.
Nova Voz – O diagnóstico é algo que ainda desafia?
Dr. Carlos Magno – A medicina é uma ciência desafiadora. Quem chega com uma dor abdominal, pode ter desde uma simples prisão de ventre, até um câncer grave. Se não tiver as informações que falei anteriormente, sobre o histórico de quem está tratando, não vai ler de forma precisa o resultado dos exames. É nesse momento que a experiência clínica funciona, possibilitando direcionar o que realmente se quer saber. Diria que 99.99 % das vezes, vamos se acertar.
Nova Voz – Teria algum caso para exemplificar?
Dr. Carlos Magno – Diversos. A boa rotina médica mostra que o exame clínico resolve com a vantagem de o tratamento começar imediatamente. Dependendo da condição do paciente isso é fundamental. Não quero citar exemplos específicos, mas apenas reafirmar minha experiência.
Nova Voz – Qual é o prejuízo dessa dependência da tecnologia?
Dr. Carlos Magno – Principalmente na saúde pública. Por mais que a Secretaria tenha recursos, torna-se um saco sem fundos. Os exames de ponta são caríssimos em função dos preços de equipamentos que por vazes passam de milhões de Reais. E é importante ressaltar que quem faz esses investimentos na sua unidade particular de atendimento, tem toda razão em cobrar os preços dos exames, pois se não for assim, ficaremos atrasados no tempo e no espaço em relação aos países mais ricos. O que digo é que as universidades precisam ser mais responsáveis e formar médicos voltados à realidade financeira do país, fazendo com que os novos doutores saibam diagnosticar não só no Rio de Janeiro ou em São Paulo, mas também no Maranhão, no Piauí ou em regiões pobres, como é o caso do Noroeste Fluminense.
Saúde Pública
Nova Voz – Já que o senhor falou em políticas públicas de saúde, com sua experiência nestes 40 anos de medicina, diria que se houvessem investimentos em áreas como saneamento básico e mesmo alimentação escolar, poderia diminuir o número de doentes nos hospitais?
Dr. Carlos Magno – Quando Leonel Brizola foi eleito Governador pela primeira vez, ele implantou um programa que incluía aulas em tempo integral, cujo aluno tomava café da manhã, almoçava, fazia o lanche da tarde e antes de sair ainda jantava na escola. Em conjunto com isso, houve vacinação de diversas doenças. O resultado foi que as enfermarias de pediatria no Hospital de Itaocara, por exemplo, esvaziaram quase que totalmente. Diminuímos de 20 crianças internadas por dia, para a mesma quantidade, mas só que por mês. Foi resultado da melhoria da condição de vida, que conjugou a alimentação, com a medicina preventiva e profilática. Sem dúvidas o Estado, tem que investir em políticas preventivas, que vão economizar milhões, até bilhões de Reais, na medicina curativa. O que não adianta é jogar essa responsabilidade apenas para os Prefeitos, principalmente de pequenas cidades como as nossas. Os governos Federal e Estadual precisam ser responsáveis e colocar recursos em quantidade.
Nova Voz – E o saneamento básico?
Dr. Carlos Magno – Quando me perguntam sobre isso fora do Brasil, fico com vergonha. Estamos entre as dez maiores economias do mundo e só entre as 70 nações em questão de Índice de Desenvolvimento Humano. É ótimo ter orgulho por realizarmos as olimpíadas, mas é imoral ter crianças desnutridas e com várias doenças típicas de países miseráveis, neste gigante chamado Brasil.
Nova Voz – Que papel tem os vícios como o cigarro e as bebidas em doenças desta sociedade contemporânea?
Dr. Carlos Magno – O cigarro é o vilão fundamental. Fumar é consumir veneno puro. Já há políticas importantes, como a proibição de fumar em lugares fechados, com leis criadas pelas Câmaras de Vereadores de localidades responsáveis. Desde as doenças cardiovasculares, o envelhecimento precoce, enfisema, cânceres dos mais variados tipos, impotência sexual, atinge aos fumantes. Quem fuma, com certeza absoluta vai ter sua qualidade de vida gravemente comprometida, inclusive diminuindo os anos de vida. Já a bebida alcoólica tem também seu grau de vilania, criando a destruição de famílias e provocando acidentes de transito. Mesmo assim, o alcoolismo acomete apenas uma fração dos que bebem. Agora o cigarro em 100 % dos casos, tem efeitos nefastos.
Nova Voz – O senhor acha que deveria se obrigar as empresas fabricantes de cigarro a arcar com custos dos tratamentos das doenças causadas pelo fumo, como já aconteceu nos Estados Unidos?
Dr. Carlos Magno – Não há dúvidas. É preciso não só tributar radicalmente o setor, mas também que o Ministério Público mova uma Ação Civil, voltada aos fabricantes deste veneno a indenizar e investir em recuperação dos que têm doenças ligadas ao fator cigarro.
Vida Política
Nova Voz – Por ser uma pessoa muito querida dentro de Itaocara, o senhor sempre teve participação na área política, mas nunca foi candidato a Prefeito, como muitos gostariam que tivesse sido. Por quê?
Dr. Carlos Magno – Eu nasci com sangue de médico nas veias. Fui talhado para guerra e o campo de batalha é meu habitat natural. Apesar de o médico ter facilidade para política, penso que ou somos médicos ou somos políticos. Fazer ambos bem feito é difícil. Mas sempre participei colaborando com aqueles candidatos que achei melhor para Itaocara ao longo da história. Temos um imenso potencial que só agora está sendo descoberto, nos investimentos na área de exploração do calcário e das duas Usinas Hidrelétricas. Somos ainda um lugar bonito e quem nos visita se apaixona. O povo é naturalmente acolhedor e ordeiro. Não tenho dúvidas em dizer que se houvesse capacidade de investir na área urbana, Itaocara seria tão destacada quanto algumas pequenas cidades que conheci na Europa e nos Estados Unidos.
Nova Voz – Nesse tempo quais foram os políticos que mais chamaram sua atenção?
Dr. Carlos Magno – Dr. Carlos Faria Souto é um gênio. Apesar da idade, em termos de modernidade está a anos luz de todos os políticos que conheci, não só em Itaocara, mas mesmo na região. Apesar de não ser arquiteto, é o nosso Oscar Niemeyer. Sua visão da cultura, do turismo é brilhante. Se fosse no exterior o povo aplaudiria quando ele andasse pelas ruas, apesar de ter sido Prefeito apenas duas vezes. Já Joaquim Monteiro foi o Prefeito que tinha muita coragem e definia as coisas com um sim ou com um não, qualidade rara em qualquer político. José Romar investiu de forma decisiva em saneamento básico, e junto com Dr. Robério, foram os que criaram políticas mais voltadas às classes pobres. Agora tivemos o Prefeito Manoel Faria e o Alcione Araújo, que como característica administram de forma austera, procurando investir dentro das possibilidades financeiras da municipalidade. Não posso esquecer também o Governo Paulo Mozart, que em apenas dois anos de mandato, deixou sua marca.
Casamento e Família
Nova Voz – Como surgiu a Dona Christina em sua vida?
Dr. Carlos Magno – Ela era minha vizinha. Eu tinha 21 anos e ela 15, quando me apaixonei. Linda moça, que os anos só fez ficar ainda mais bela. Minha companheira, amiga, mãe dos meus filhos, melhor conselheira e melhor apoio naqueles momentos difíceis que todas as famílias enfrentam. Não há dúvidas que a melhor decisão da minha vida, foi casar com a Christina, no dia 12 de Dezembro de 1970.
Nova Voz – E os filhos?
Dr. Carlos Magno – Meus filhos me orgulham muito. A Gabriela é destaque no meio acadêmico, na área do Direito Internacional. Tem uma cabeça privilegiada. Puxou meu lado pensador, que gosta da filosofia, do debate das idéias. Já o João Paulo é minha paixão pelo o que há de mais moderno na medicina. Está reunindo conhecimentos que vão lhe possibilitar ser proeminente na área de ponta da medicina. O João Gabriel tem as mesmas qualidades intelectuais, somadas ao gosto e o jeito pela política. Várias vezes disse que tem vontade de vir para Itaocara. Não me surpreenderia vê-lo candidato a cargos públicos no futuro. Meus filhos são o legado maior que eu e minha mulher deixamos para o mundo.
Rotinha Diária
Nova Voz – Mesmo após 40 anos de medicina, sua rotina continua puxada. O que lhe motiva tanto?
Dr. Carlos Magno – Começo a trabalhar 7 horas da manhã e vou, no mínimo, até as 19 horas, fora os plantões de vinte quatro horas. Ainda sou Diretor Geral do Hospital de Itaocara e Diretor da Casa de Saúde João XXIII. De segunda a sexta trabalho em torno de 12 horas diárias, e nos finais de semana faço visitas médicas na Casa de Saúde e no Hospital de Itaocara, notadamente aos Domingos dou uma pequena assistência no Hospital de Pirapetinga (MG). Ainda fico vinte quatro horas de sobre aviso para qualquer emergência que ocorra no Hospital de Aperibé.
Nova Voz – Como o senhor ainda consegue ter motivação para tudo isso?
Dr. Carlos Magno – A medicina está na minha veia. Existem dois tipos de medicina. A de escrivaninha e a do campo de batalha. Eu sou desta última. Deus me deu um talento, que nas horas críticas aparece e está a serviço das pessoas. Por isso oro agradecendo todos o dias.
Nova Voz – Que mensagem daria aos Itaocarenses nestes 119 anos de Emancipação Política e Administrativa?
Dr. Carlos Magno – Primeiro muito obrigado por todo carinho que durante 40 anos demonstraram. A confiança no médico é um ingrediente que jamais pode faltar para que o tratamento dê certo, e felizmente conquistei com resultados essa confiança dos pacientes. Sempre busco fazer mais do que necessito. Não posso deixar de parabenizar ao Dr. Álvaro Luis Correia da Rocha, proprietário do Engenho Central, por tudo que fez por Itaocara e agora vai fazer de novo, quando a Fábrica de papel estiver em funcionamento. Da mesma forma ao meu amigo Idemar Figueiredo, apaixonado por essa terra e querido pelos itaocarenses.


Ronald Thompson