“Essa imagem mostra os hoje conhecidos Dr. Sandro (oftamologista), Carlinhos (empresário da Itacol), Paquinha (que segundo soubemos está em Nova Friburgo) e Silvano (da Farmácia) quando eram crianças ou jovens e nem podiam imaginar que iriam tornar-se pessoas tão representativas da nossa sociedade, como são hoje”. |
Uma Vida Dedicada ao Progresso de Itaocara
O famoso dramaturgo alemão, Bertold Brecht, disse certa vez: “Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores ainda. Há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há ainda aqueles que lutam durante toda a vida, e estes são imprescindíveis”. Essa frase resume a vida desse grande itaocarense, chamado Idemar de Souza Figueiredo, que durante nossa história participou praticamente de todas as iniciativas importantes, voltadas ao progresso do município.
Nova Voz – Quais são suas lembranças da infância?
Idemar – Minha meninice foi ótima. Muitos irmãos (onze). Meu pai, João Monteiro Figueiredo, casou-se duas vezes. Perdi minha mãe, Carolina Souza Figueiredo, quando tinha 5 anos. Estudei no Grupo Escolar Laurindo Pita, em Jagarembé, onde nasci no dia 15 de abril de 1932. Tenho no 4º Distrito velhos amigos e parentes. Estudei com Irineu Gama, Jackson Oliveira, José Manoel, Manoelino Cabral, Wilson Ignácio, Valdo, Edir Castro e tantos que gostaria de citar. Tenho lá uma amiga de verdade, a Lasinha. Na verdade considero como irmã que a vida me deu.
Nova Voz – Como surgiu a historia de Idemar Farmacêutico ou Idemar Boticário?
Idemar – No dia 12 e setembro de 1949, trazido por Walter Cidade para jogar futebol no time local, me radiquei em Itaocara. Aqui recebi do Sr. José Francisco da Rocha (Juca Rocha), todos os ensinamentos para ser uma pessoa honesta e cumpridora dos deveres. Comecei a trabalhar na Farmácia Central. Posteriormente na Farmácia Pontes, do itaocarense histórico Otílio Pontes, que me incentivou a tornar-me Oficial de Farmácia, o que me daria direito algum dia a ser responsável técnico por minha própria farmácia. Quando criei a Farmácia Semiana, já tinha o número 754 no Conselho Regional de Farmácia. No entanto me considero simples boticário do interior, ou melhor, Idemarzinho da Farmácia.
Nova Voz – O senhor foi ainda diretor e mesmo presidente de empresas importantes como a Capil.
Idemar – Antes de ser Presidente da Capil, fui Presidente da Cotita – Companhia Telefônica de Itaocara, fundada pelo Dr. Donaldo Pontes, e por grandes incentivadores do progresso, como Moises Gama, Zuzuca e José Teixeira Alves. Fui Presidente e Relações Publicas do Asilo Bem Comum de Todos; no União Esportivo Itaocarense, quando da fundação, fui Tesoureiro; Provedor do Hospital de Itaocara. Lembro-me do saudoso Zé Daninha, fazendo a campanha do quilo, com os pequenos e grandes proprietários doando alimentos para os internados, fossem ricos ou pobres. Não podemos esquecer do apoio do Dr. Waghabi, Dr. Luiz, dona Maria Canella, Rosinha, dona Cicy, Zezé do Onofre, Geraldo, Florentino, Soter Lanes, Freveriço, Paulo Bandeira e demais abnegados, que lutaram para manter aquela Casa de Deus funcionando bem. Quero dizer obrigado ao Dr. Álvaro dos Santos Pinheiro, Dra. Ceyla e tantos que o nome me falta a memória. Minha geração chama de velho Hospital, a parte sem o anexo, que só foi construída depois, quando vieram Dr. Nelson, Dr. Carlos Magno, Dr. Álvaro Felix, Dr. Chain, Dr. Cristovam, Dr. Antonio de Pádua. Fomos buscar Dr. Robério em Oswaldo Cruz (SP). Emociono-me ao pensar que seus filhos seguiram o caminho do pai e atendem no Hospital.
Nova Voz – Como era administrar o Hospital naqueles tempos?
Idemar – Uma luta diária. Com máximo respeito, era nosso ‘hospitalzinho’. Dos tempos de uma medicina humanística, liderada por esse gigante itaocarense chamado Dr. Pinheiro. Não importava se era dia ou noite. Se chovia ou fazia sol. Se dia útil, sábado, domingo, carnaval ou semana santa, estávamos lá para atender da melhor maneira possível. O plano de saúde era ‘Obrigado Doutor. Deus lhe Pague’. Grande mesmo só o coração do tamanho do universo. Lembro do barulho que fazia na ponte de madeira. Funcionava como uma campainha, para que fossemos socorrer ao chamado nervoso de alguém que sofria com o familiar doente ou acidentado. Por isso tenho o prazer de dizer que meus filhos nasceram no Hospital de Itaocara.
Nova Voz: Mas e a Cooperativa?
Idemar – Sobre a Capil fui presidente numa época de crise econômica, eleito junto com Nelson Bairral Falante (Pirisco). Quem nos apoiou então foi o comprador Winiffer Jordan, proprietário da famosa marca SPAN. Deu tão certo, que voltei como Diretor Financeiro duas vezes, renunciando em 1991, para ser candidato a Vice Prefeito. Nossa Capil é orgulho dos itaocarenses e sustentáculo da economia na região circunvizinha ao nosso município. Hoje temos na Presidência Paulo César Alves, que junto com Aquiles e Manoel Faria, seguem no mesmo ideal. Não poderia deixar de citar o atual Prefeito, Alcione Araújo, que nos períodos em que lá estivemos, foi, sem sombra de dúvidas, o maior cooperador, responsável pelas vitorias alcançados pela Capil.
Nova Voz – E agora, sua atuação no Sindicato Rural?
Idemar – Sempre tive uma intensa ligação com a zona rural. Recentemente houve eleições no nosso Sindicato e, com meus amigos Aguinaldo Xandico e Dr. Luis Cláudio, faço parte da chapa eleita. Sempre acreditei no fortalecimento das entidades de classe. Tenho certeza que sob a presidência do Aguinaldo, o Sindicato vai ser cada dia melhor.
Nova Voz – Como foi sua passagem ocupando a Vice Prefeitura da cidade?
Idemar – Fui eleito em 1992, juntamente com o saudoso ex-prefeito José Romar. O Zé é um dos políticos mais queridos da história de Itaocara. Tinha disposição para ouvir e atender da melhor forma possível, principalmente os mais humildes. Logo no início do governo acumulei o cargo de Secretário de Saúde. Depois de algum tempo, devido as minhas atividades, pedi ao Zé que nomeassem a Drª. Neuza no meu lugar. Ela teve um desempenho maravilhoso. Com os poucos recursos da época, desenvolveu um trabalho de alta qualidade.
Nova Voz – E sua participação no governo do Dr. Robério?
Idemar – Ele me nomeou Secretário de Planejamento. Lembro-me que pediu para elaborarmos o projeto de construção do Posto de Saúde. Juntamente com a arquiteta, Drª. Gleize, e a incansável Taninha Erthal, fizemos o projeto. Posteriormente Dr. Antônio introduziu algumas modificações, que melhoraram ainda mais nosso trabalho.
Nova Voz – Mas o senhor também foi Secretário de Agricultura.
Idemar – Sim, ainda na gestão do Dr. Robério. Era o início do PRONAF – Programa Nacional da Agricultura Familiar. Um momento de enorme trabalho, pois tínhamos que aprender a fazer. Felizmente temos em Itaocara um homem de gigantesca qualidade técnica e humana, o Dr. Salomão da EMATER. Não posso deixar de citar o Ronaldo Lessa, que muito nos ajudou, e o meu amigo-irmão, José Luis Guimarães. Só para o leitor ter uma idéia, compramos duas caminhonetes saveiro, um trator de aração e uma retro-escavadeira. Foi uma revolução. Atendemos todo o município, em parceria com as Associações de Produtores Rurais. Numa segunda etapa, colocamos água encanada para 5 comunidades (duas localidades do Papagaio, Morro Alto, Duas Porteiras e Conceição). No mercado do Ponto de Pergunta, informatizamos o atendimento, fizemos uma sala para reuniões, compramos TV, ventiladores, telefones, som, enfim, uma estrutura moderna. Construímos o horto do Campo de Sementes, fizemos obras e melhoramos a capacidade de atendimento odontológico nos Postos de Saúde de Estrada Nova, Batatal e Papagaio. Distribuímos e plantamos mudas, com destaque para o José Luiz Guimarães, campeão no plantio do Eucalipto. Isso com recursos do PRONAF e liderados sempre pelo Prefeito Dr. Robério.
Nova Voz – Repercutiu na grande mídia foi sua iniciativa de criação da Reserva Florestal Regina Casé. O que nos diria sobre esse empreendimento?
Idemar – Essa é uma iniciativa de produzir num trecho que está coberto com árvores frutíferas, mata atlântica e algumas espécies da região. Começamos em 2 de setembro de 2002, numa área aproximada de um hectare. Em homenagem a São Francisco de Assis, construímos uma capelinha no meio da mata. Nosso objetivo é exatamente recuperar as nascentes e vem dando resultado, pois não tem faltado água na localidade.
Nova Voz – O senhor ainda continua crítico da globalização?
Idemar – Quando começou essa historia de globalização, sentia que seria o caos. Benefício para poucos, em detrimento da grande maioria. Demorou, mas deu no que deu no ano passado. A ganância quebrou as principais bolsas de valores do mundo, trazendo sofrimento e tristeza a milhões de pessoas. Dinheiro só é bom quando usado de forma produtiva, gerando trabalho e renda na comunidade. Essas aplicações que dão lucros milionários, sem nenhum esforço, criam corrupção e preguiça no coração dos seres humanos. Espero que um dia o homem tome juízo, cuidando melhor do semelhante, do meio ambiente e do futuro do planeta, ao invés de pensar apenas no bem estar momentâneo.
Nova Voz – Quando se fala em política, quem é o homem que mais lhe impressionou?
Idemar – Fácil: José Maria Fernandes. Apesar de nunca ter sido Prefeito (foi Vice no primeiro mandato de José Romar), é o maior líder que já tivemos. Desperta confiança nos companheiros e o respeito nos adversários. Amigo e conselheiro sem igual. Pena um problema de saúde tê-lo tirado da política, pois está fazendo muita falta a Itaocara.
Nova Voz – Se não me engano o senhor é um dos maçons mais antigos da Loja Lauro Sodré IV, tendo recebido inclusive a Cruz da Perfeição Maçônica, não é mesmo?
Idemar – São 45 anos de maçonaria. Aprendendo os melhores valores que o homem pode ter, sempre em prol do bem da comunidade e solidariedade aos menos favorecidos. É uma porta que nos permite servir ao próximo, que penso ser o verdadeiro objetivo da vida. Fora isso, convivi com gente que admirei e vou continuar admirando até o último suspiro. Em relação à condecoração, é algo que recebo pela benevolência da maçonaria e me traz grande alegria. Obrigado aos irmãos.
Nova Voz – O senhor é um jovem de 77 anos. De onde vem energia para fazer tudo que já fez e continua fazendo?
Idemar – Primeiro de DEUS, que é meu amigo, companheiro dos bons e maus momentos. A chama da esperança por dias melhores nunca se apagou no meu coração, e é isso que me faz acordar com otimismo, crendo que hoje é sempre melhor do que ontem. Depois sou apaixonado por Itaocara. Viver nesse município é um privilégio. Tenho mais de 200 afilhados ao longo da vida. É a história que vou levar eternamente comigo.
Ronald Thompson