A psicóloga Drª. Cristiani Cosendey faz importantes considerações sobre o novo papel das mães, na sociedade atual, destacando sempre que a maternidade é uma opção e o quanto é importante ter a consciência do papel a ser exercido na formação dos filhos.
Nova Voz – O que é ser mãe nos dias de hoje?
Drª Cristiani Cosendey – Acredito que ser mãe nos dias de hoje, como em qualquer época, é um amável desafio. Afinal ter filhos e educá-los, é como abrir uma caixinha de surpresas, a todo o momento, ao nos depararmos com novidades encantadoras ou situações assustadoras (quando não sabemos o que fazer e precisamos recorrer aos médicos). O conceito da família ideal – pai, mãe e filho – continua o mesmo, onde a mãe representa uma figura pura, única responsável pela educação e formação dos filhos, e sempre presente. Mas a mulher contemporânea necessita sair para trabalhar, muitas vezes é a chefe da família e por isso carrega consigo uma carga muito mais pesada, uma realidade que não se encaixa nos padrões antigos. Levando em conta o contexto histórico e cultural que nos cerca, atualmente as realizações pessoais de uma mulher não estão restritas à maternidade, ainda que esse sentimento constitua um dos pilares da identidade feminina, e da sociedade.
Nova Voz – Vivemos no mundo da informação, em que fontes sobre diversos assuntos abundam, e se por vezes nos confundem, imaginem as crianças e os adolescentes. Neste aspecto, como os pais devem atuar para que seus filhos tenham noções do mundo culturalmente mais próximas das suas?
Drª. Cristiani – Segundo alguns estudos modernos, os pais de hoje estão mais confusos que os filhos. Exatamente por vivermos no mundo da informação; porém nossos filhos já nasceram nele, e nós não. Então somos nós enquanto pais, mães, educadores que temos que aprender como agir numa época de informações abundantes. São necessários limites, mas não aqueles impostos às gerações anteriores, ou à nossa geração. Não basta o amor incondicional, de dar a vida por nossos filhos, é necessário, no mínimo, bom senso e comprometimento para mudarmos e nos adequarmos a esta época. E assim poder aproximar as nossas noções de mundo das dos nossos filhos.
Nova Voz – Você é mãe de três filhos. Cada um é uma experiência única, devido as suas próprias personalidades, ou a mesma resposta que dá a um, pode dar ao outro, sem muitos problemas?
Drª. Cristiani – O antigo ditado já diz: “Os dedos das mãos não são iguais”. E viva as diferenças! Por sermos seres únicos, sem dúvidas cada um deles, é uma experiência única. As regras são iguais para todos. Mas o modo de aplicá-las varia conforme a personalidade de cada um.
Nova Voz – A cada dia mais as mulheres fazem parte da sociedade laborativa, isso termina reduzindo o convívio com a família e os filhos sofrem em função desta ausência. Como psicóloga, que importância isso pode ter na formação da personalidade adulta das crianças e adolescentes?
Drª. Cristiani – Muito se fala que o que vale é a qualidade do tempo em que passamos juntos. Acredito nisso. Existem pessoas que tem mais tempo para usufruírem do convívio familiar, do que outras e, no entanto, causam grandes estragos com isso, estão sempre estressadas, irritadas, dizendo que estão cansadas. Penso que se optamos por ter filhos, precisamos ouvi-los, brincar com eles enquanto são crianças e compreendê-los quando as mudanças aparecem na adolescência. E esse apoio não precisa de muito tempo, mas precisa ser verdadeiro e acontecer sempre, para que cresçam seguros, e como disse Freud “Como fica forte uma pessoa quando tem certeza de que é amada”.
Nova Voz – Uma drástica mudança cultural que ocorreu nos últimos 25 anos, foi a criação da sociedade de celebridades, cujos valores se alicerçam apenas em futilidades. Como mãe e psicóloga, o que fazer para que os filhos não queiram apenas ter uma imagem glamorosa, mas também desenvolvam uma personalidade humanística?
Drª. Cristiani – Estar verdadeiramente comprometido em formar pessoas, e não somente em criar os filhos. Formar pessoas dá trabalho; exige paciência, boa vontade, coragem e acima de tudo muito amor. Mas de nada vale se o pai e a mãe são pessoas que tem os valores alicerçados apenas em futilidades, afinal vale mais um exemplo que milhares de palavras.
Nova Voz – De que maneira vê e como administrar o incontrolável acesso de crianças e adolescentes a Internet? Essa tecnologia é maravilhosa, mas pode também trazer sofrimento as famílias, com problemas tais qual a pedofilia, drogas e violência indiscriminada.
Drª. Cristiani – Os pais devem reconhecer a importância de limites. E saber o que é importante para eles enquanto formadores de pessoas. Não existe uma receita de bolo. Não podemos colocar nossos filhos numa redoma. Precisamos conversar, esclarecer, falar francamente sobre os perigos e as conseqüências. Se desde pequenos são orientados, os filhos crescem com uma visão crítica de mundo mais apurada e conseqüentemente aprendem a administrar essas questões sem sofrimento.
Nova Voz – É justo dizer que em função de tudo o que conversamos até agora, é mais difícil ser mãe nos dias atuais, quando o papel da mulher ganhou maior importância na sociedade, do que antes, quando apenas cuidavam da família? Por quê?
Drª. Cristiani – Ser mãe não é profissão, é opção. E se fizemos essa escolha, devemos estar preparadas para as muitas questões das quais se constitui essa nobre missão. Não é uma tarefa fácil, mas é uma experiência incrível. O papel da mulher foi e é importante em qualquer época, o que nos diferencia das outras são os muitos aspectos culturais modificados ao longo da história da humanidade. Hoje temos mais informações e muitas vezes não sabemos o que fazer com elas. De vez enquanto perdemos o foco existencial, a importância da essência da vida, da responsabilidade em educar alguém que venha somar ao mundo, e não ser apenas mais um. Atualmente fazemos mais coisas, e para isso precisamos nos dividir em muitas, mas acredito que somos mais felizes, mais dinâmicas e empreendedoras. Afinal precisamos dar conta daquilo que conquistamos.
Nova Voz – A maternidade muda a mulher. Em regra isso é uma obviedade. Mas por vezes pode tornar-se algo penoso, se as mães esquecerem que continuam mulheres e indivíduos com os próprios desejos e aspirações. Conciliar estes dois aspectos é um ato de sabedoria?
Drª. Cristiani – Não é um ato de sabedoria, é um ato de necessidade e respeito a si própria. Desempenhamos vários papéis: de filha, de mãe, de esposa, de profissional, e existimos enquanto mulher. Somos únicas num mundo cheio de sistemas distintos com os quais temos que nos relacionar. Mas para que haja harmonia, precisamos nos reconhecer como pessoa, precisamos nos respeitar como tal, reconhecendo nossos limites e valorizando a nossa existência.
Nova Voz – Como mulher, mãe e filha, o que diria a todas as leitoras e leitores, neste Dia das Mães?
Drª. Cristiani – Agradeço a Deus a oportunidade de ter a mãe que tenho, minha companheira, meu porto seguro, verdadeiramente uma MÃE. Agradeço a Deus a experiência inigualável de ser mãe de três homens, e mulher de um homem que muito me ajuda nessa missão. Portanto, penso que devemos permitir que nossos filhos cortem o céu usando o máximo potencial de suas asas, mas fazendo-os sempre aprender a lidar com os reveses que encontrarão pelo caminho. Dessa forma, mesmo com os desafios da vida moderna, podemos sim nos adequar e ser referência para essa geração de tantas e tão complexas aspirações. Ofereço aos leitores e leitoras, a seguinte reflexão da psicóloga Kimy Otsuka Stasevskas, neste dia das mães, “A mãe idealizada e perfeita não existe mais. Por isso, aquelas que optaram por serem mães, assumindo preocupações e responsabilidades, devem se humanizar e buscar prazer em todas as suas relações, principalmente com os filhos”.
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