Dizem que pescador é contador de mentiras. Conheci um que era diferente de todos, se dizia exceção, pois nunca tinha falado uma mentira sequer.
Ele apenas relatava o que realmente tinha acontecido.
Ele dizia que mentiroso era o irmão, Maroca.
Ele não! E foi sentado numa pequena ilha, mais conhecida como ilha dos Vieiras
– pois ali só habitava a família Vieira
– que iniciei uma conversa com o famoso pescador Antônio Vieira (além de pescador, dançarino, poeta, músico…).
Foi ali, à beira do rio Paraíba do Sul, à sombra dos bambuzais, bebendo água que passarinho não bebe e comendo um peixe pescado e frito na hora pelo Ademir, que se iniciou aquele papo agradável.
– Miguelzinho, outro dia passei o maior sufoco. Como de costume diário, fui pescar e estava um dia muito esquisito, não tinha pegado nada ainda.
De repente, senti uma beliscada de leve, deixei dar outra beliscada e fisguei o danado.
Daí comecei a sentir dificuldades de trazer o peixe pra fora e, ao invés deu trazer o peixe, ele é que tava me levando pra dentro do rio.
Já tava com água pela cintura! Por sorte, avistei uma grande árvore e arremessei a linha que enroscou no tronco, mas durou muito pouco, pois o peixe conseguiu a arrancar a árvore, quando tava quase chegando na margem do rio.
Surgiu um trator e amarrei nele.
O peixe puxou também o trator, daí amarrei num caminhão e ficou aquele duelo…
Você acredita que o rio já tava tortinho e o peixe nada de sair?
Surgiu outro caminhão e os dois caminhões, mais o trator, conseguiram trazer o danado.
Era muito grande e, quando achei que tava tudo contornado, ele veio pra cima
–peguei minha espingarda e atirei, espatifando o danado.
Saiu da barriga dele, um touro bravo que também veio pra cima de mim.
Daí peguei meu revólver e atirei!
O touro explodiu e saíram várias pirainhas.
Peguei meu canivete e fui matando uma a uma até que surgiu um urso polar.
– Antônio, peraí! Até agora, tudo bem, dava pra levar. Mas urso polar, não! Não existe urso polar no Brasil!
– Daí. Peguei o urso polar pelo colarinho, segurei firme, olhei bem nos olhos dele e perguntei:
O que você tá fazendo aqui, ô desgraça?
Aproveitei a deixa e fiz uma piadinha:
– Por que tem cama elástica no Polo Norte? Pro Urso Polar!
Existe o Urso Polar e o Bipolar. Tá feliz, tá triste, tá feliz, tá triste…
(Desculpa, leitores! Melhor uma mentira que uma piada deste nível!)
– Antônio, continue:
– Teve um dia que eu tava pescando e não pegava nada. Um rapaz alegre do outro lado
– o tempo todo colocando peixe no cesto. No outro dia, fui e sentei justamente onde o rapaz estava e ele ficou onde eu estava. Não peguei nada e ele, um peixe atrás do outro. Não me contive e fui perguntá-lo qual era o segredo, ele respondeu:
– Querido, é o seguinte, quando eu acordo eu olho pro lulu do meu namorado. Se estiver pro lado esquerdo – eu pesco do lado esquerdo – se estiver do lado direito – eu pesco do lado direito.
– Entendi, mas se tiver pra cima?
– Meu bem, você acha que eu venho pescar?
Gargalhada de todos! Chega Maique- vulgo Machola
– e pergunta ao Antônio sobre outras histórias:
– Tio, conta pra gente a história da galinha que chocou em baixo d’água, do gato que pescava com o rabo, do dourado que vinha toda manhã e finalzinho do dia à beira do rio e, com o rabo, regava a plantação e deu jiló com mais de quilo…
– Essa história é do Maroca, eu acho que é mentira dele e eu não gosto de mentiras, disse Antônio! Tudo que eu relatei, aconteceu mesmo!
Neste momento, Antônio saca seu violão e nos presenteia com uma embolada:
Ô bucho, bucho
ô Bochecha, ou buchada
tira o dedo da bochecha
mete dentro da bochechada
moça da bochecha gorda
velha da bochecha magra
cuidado cantor
pra não cantar palavra errada
se cantar o coro come
e a polícia da pancada.
Assim, Antônio encerra com sua célebre frase:
Caba não, mundão
Caba sim – que é bão!
Ator e Humorista com 20 anos de carreira
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