Ele ressaltou o grande potencial de Turismo da Cidade
O comerciante Carlinhos, da Ponto 2, fala da luta que travou, ao lado da sua família e funcionários, para que a Ponto 2 se tornasse uma empresa de grande destaque nestes 119 anos de Itaocara. Em sua opinião setores como o turismo e a boa exploração da nossa capacidade industrial, pode alavancar um grande progresso.
Nova Voz – Como foi o início da Ponto 2 Tintas?
Carlinhos – Após ter rompido uma sociedade em que trabalhava com tintas automotivas e peças para carros, iniciei o empreendimento que mais tarde tornou-se a Ponto 2 Tintas, empresa voltada ao seguimento de material de construção, que também era um antigo sonho. Mas tudo começou com tintas automotivas, depois fomos para tintas imobiliárias, tintas industriais, e hoje somos uma empresa sólida no ramo de tintas e material de construção. São 15 anos de exitosa luta diária.
Nova Voz – Como é sua relação com os empregados e clientes?
Carlinhos – Hoje temos 10 funcionários, que vejo na verdade como colaboradores, pois tem um valor inestimável. Eles dividem o sonho comigo e minha família. Chegamos aqui de manhã e trabalhamos felizes, realizando nosso sonho. São 15 anos de bom convívio com os clientes, cujos laços grande parte das vezes se transformam em parceria na construção, ampliação ou reparos em suas residências. Participar deste processo nos deixa muito felizes.
Nova Voz – Como é essa relação, em que sua família também é parceira nos negócios?
Carlinhos – O apoio da minha esposa e dos meus filhos é a base que possibilita construir tudo o que temos feito. Sabemos da importância de suar pelo sucesso da Ponto 2. Não misturamos as relações. Em casa é uma estrutura, aqui, na Ponto 2, é outra. Com certeza a consciência que temos sobre isso é fator de harmonia e crescimento, seja em casa, seja no comércio.
Nova Voz – O que um homem bem sucedido como você, teria a dizer para quem sonha começar o negócio?
Carlinhos – Quando comecei não tinha nenhum planejamento. Era apenas o sonho e o trabalho duro. Atualmente não aconselho ninguém a entrar num empreendimento, sem planejamento. A cada passo, é preciso ter estudo, saber onde quer se chegar, até que ponto pode se comprometer. Se precisar mude quantas vezes for necessário. Responda sempre se esse dia teve os resultados que você esperava. Em caso negativo, criei nova estratégia, pois a previsibilidade demonstra se está certo ou errado. Fundamental é a persistência. Só a continuidade é capaz de transformar um ideal, numa coisa concreta, que dá lucro, gera empregos e paga impostos
Nova Voz – A paciência também é ingrediente do sucesso?
Carlinhos – Em países ricos e desenvolvidos, só se permite tirar qualquer retorno da empresa, depois de pelo menos dois anos de mercado. Infelizmente no Brasil é comum que no mesmo dia em que abriram as portas, algum dinheiro já sirva para pagar despesas pessoais. Pesquisas mostram que a conseqüência é que a cada 10 novos empreendimentos, 7 param antes de completar dois anos de existência. A responsabilidade por esse insucesso deve ser compartilhada entre o Governo, que não consegue montar uma política simples de crédito para novos negócios. O anúncio feito pela televisão, em horário nobre, é lindo, mas quando se procura na ponta, nota-se que a burocracia e as garantias são tantas, que é insignificante o número dos que realmente se beneficiam. O segundo é o sistema bancário que funciona como agiota oficial, a espera de quebrar suas pernas, usando uma imagem de filme americano, quando as coisas ficam difíceis. A qualificação do empresário é outro fator que falta. Não há lugar mais para amadorismo.
Nova Voz – Mas e os que não podem esperar?
Carlinhos – Quem tem essa necessidade urgente deve tentar procurar um emprego. Pode parecer que estou sendo frio, mas a realidade do balcão é essa. Esse estudo que revelou que 70% dos empreendimentos fecham antes dos dois anos, ocorre exatamente por não se perceber essa diferença. Vi uma reportagem que contava a história de um cidadão que começou um negócio. Abriu uma conta bancária e o gerente logo ofereceu um cheque especial com valor razoável. Ele então usou esse dinheiro para pagar todas as dívidas particulares que possuía. A empresa faliu e as dívidas só mudaram de mão, agora com os juros abusivos contidos no cheque especial. Infelizmente isso é comum. Os empresários experientes sabem que a relação com os bancos tem que ser sob a égide da responsabilidade.
Nova Voz – E o SEBRAE?
Carlinhos – O SEBRAE é muito importante. Tem o know how que pode ajudar decisivamente. São cursos que capacitam quem tem um sonho de construir um novo negócio. Muita gente pensa em financiamentos, mas estes de nada valem sem know how e o SEBRAE é muito importante nesse aspecto.
Nova Voz – Como empresário qual sua visão da nota fiscal eletrônica?
Carlinhos – Com a nota fiscal eletrônica a sonegação vai acabar ou pelo menos reduzir muito. O leão é bravo. Problema maior é que a União, os Estados e os Municípios vão aumentar a receita e continuar oferecendo serviços, em geral, de baixíssima qualidade. Lógico que há exceções, como um Prefeito em Cariacica, Espírito Santo, que em 18 meses de gestão fez abrir 800 novas empresas. Criou isenção de 10 anos para o IPTU, reduziu de 5% para 2% o ISS e ainda foi ao Governador do ES, convencendo-o a participar de uma parceria de pequenos empréstimos, cujos valores variavam de R$2.000,00 até R$10.000,00, isso a juros de 0,05 ao mês, para quem abrir o pequeno negócio. O resultado foi à geração de 2.800 novos postos de trabalho. Ele está concorrendo com quarenta Prefeitos, ao título de Prefeito Empreendedor do Brasil. Se todos os Prefeitos, Governadores e o Presidente da República, tivessem essa visão, a carga tributária seria absolutamente suportável. O problema maior é ver o dinheiro dos impostos gasto em benefícios dos próprios gestores ou em políticas absolutamente popularescas, contrárias ao melhor interesse republicano.
Nova Voz – O que falta a Itaocara para seguir esse exemplo do Prefeito de Cariacica?
Carlinhos – Nosso município é maravilhoso. Temos um potencial extraordinário, em áreas como o turismo. O que nos falta é gente com capacidade para explorar. Não estou falando especificamente de um Prefeito, de um Secretário. Penso que precisamos de um grupo de cidadãos comprometidas a fazer uma mudança de verdade. Nós sabemos que quem vem passear, se trouxer Mil Reais, vai deixar Mil Reais para cidade, mas se tiver Cinco Mil Reais, vai da mesma forma deixar os Cinco Mil Reais. Outro ponto é criar um pólo voltado à indústria, até para aproveitar a vocação de lugares como Portela, que tem fábricas de móveis. Trazer o SEBRAE, o Banco Mundial, o BNDES não só com os recursos baratos que possuem, mas também com a preciosa orientação técnica.
Nova Voz – Há exemplos a serem seguidos?
Carlinhos – Há alguns anos atrás Ubá de Minas tinha um grande fabricante de móveis, que foi se transformando em dois, três, e hoje são 430 fábricas de todos os tamanhos, produzindo variedade de produtos, gerando empregos, impostos e desenvolvimento social e econômico. Têm-se o João do Brás em Portela, que foi o homem que começou tudo, e muitos dos seus ex-funcionários tem suas próprias fábricas, por que não incentivar essa multiplicação?
Nova Voz – O que o Governo Municipal pode fazer para alavancar essa idéia?
Carlinhos – Como itaocarense, a primeira sugestão ao Prefeito da minha cidade é criar uma Secretaria de Indústria e Comércio e nomear como titular da pasta alguém com perfil absolutamente técnico. De preferência um empresário bem sucedido, que possa até doar a uma instituição de caridade o salário que vai receber. Esse profissional teria a missão específica de aglutinar em torno de si nomes do setor produtivo, seja do comércio, seja da indústria. Ouvi-los, criando projetos e então ir buscar o que for necessário para Itaocara viver um boom de negócios. As agencias de fomento do Estado, da União, de instituições privadas, ou mesmo organismos internacionais como o BID, o BIRD, o Banco Mundial e ONGs, têm recursos para bons projetos, voltados ao progresso econômico e social.
Nova Voz – Itaocara tem cabedal para receber estas idéias?
Carlinhos – Dou como exemplo o comércio, que é um dos mais prestigiados da região. Pessoas vêm de Pádua, Cambuci, Aperibé, São Sebastião do Alto e mesmo lugares mais longe, como Miracema e São Fidelis, comprar em Itaocara. Veja a diversificação de produtos que possuímos. Desde revendas de motos e veículos, passando por móveis de altíssima qualidade, material de construção, papelarias e uma infinidade de atividades. Somos os maiores empregadores de mão de obra do município. Merecemos ser ouvidos, quando o assunto for crescimento municipal.
Nova Voz – A Prefeitura poderia prestigiar mais o comércio local?
Carlinhos – Individualmente ela já faz isso. O que se produz ou comercializa em Itaocara, a Prefeitura compra quando precisa. Nesse aspecto temos que aplaudir a gestão do ex-prefeito Manoel Faria, e do atual Alcione Araújo. Inclusive não somente compram, mas também pagam em dia. Não estou falando dessa relação individual. O que gostaria é de ver uma política macro, liderada por alguém do comércio ou da indústria.
Nova Voz – Em sua experiência de 15 anos de comércio, o que se faz quando as coisas não vão tão bem?
Carlinhos – Não dá para ficar de braços cruzados, esperando cair do céu. Estes dias li na internet a história de um cara que tinha começado um negócio e com essa crise que abalou o mundo, esteve nas portas de falir. Ele conta que se perguntou o que fazer? Fechar as portas, logo tirou de cogitação. Restava arregaçar as mangas. Chamou os dois funcionários, os colocou a par da situação e disse que fossem fazer visita de porta em porta, tentando vender. O resultado é que cresceu tanto, que contratou 20 novos empregados. Os dois que compraram a briga são gerentes da empresa. A apatia não faz parte do vocabulário do bom empreendedor.
Nova Voz – Vamos fazer 119 anos de emancipação política e administrativa no dia 28 de Outubro. O que dizer aos leitores do Jornal Nova Voz?
Carlinhos – Quero dar um abraço especial ao Monsenhor Saraiva que completou dia 22 de setembro 90 anos de idade. Quando ele caminha, a história que está toda naquela cabeça privilegiada anda. Um ser humano extraordinário, que cumpre sua missão divina de forma exemplar. Não posso esquecer também ao maior Prefeito que Itaocara já teve. Talvez uma dos maiores do Brasil, que é o Dr. Carlos Moacir Faria Souto. Não há predicados suficientes para enaltecer tudo o que fez pelo município. Se eu, Carlinhos, fosse o Prefeito, não há dúvidas que iria me aconselhar com ele sempre. Também a essa juventude linda, maravilhosa, que gosta de estudar e tem amor por essa terra. Não posso esquecer meus companheiros do comércio, homens que pela fé levantam da cama todos os dias, pedindo a Deus por prosperidade, e nosso senhor é tão bom para nós, que atende essas preces. Concluindo gostaria de pedir que nos uníssemos pelo turismo. Tirássemos da cabeça que a responsabilidade é só do governo. Não é. Se a sociedade civil estiver irmanada em determinado ideal, vamos construir uma Itaocara ainda mais maravilhosa. Parabéns a todos.
Ronald Thompson